Acordei por volta das 6h na manhã do dia 22 de novembro com algumas dores. Convencida de que eram devido à posição em que estava a dormir, virei-me para o outro lado e tentei dormir mais um bocado.
Parecia ser um dia absolutamente normal, levantei-me, tomei banho e quando já estava ocupada a espalhar o belo do creme gordo pela barriga comecei a sentir uma dor do meu lado direito.
Uns segundos mais tarde e eu até já tinha alguma dificuldade em andar. Aqueci a almofada das sementes no microondas já a contorcer-me de dores e fui para o sofá.
Entretanto passou. Ficava apenas uma pequena dor. Aproveitei para avisar que não ia trabalhar e entretanto já lá estava ela outra vez. Uma dor muito intensa do lado direito.
A intensidade ia e vinha, mas ficava sempre presente dor residual.
Não conseguia sequer pegar nos meus livros de grávida e procurar uma explicação para aquilo. Liguei ao tiago para que visse por mim na net. Ele não me ligou nenhuma e veio para casa.
Já em casa ainda tentamos o serviço de telemedicina da multicare, mas acabamos por sair para o hospital quando nos disseram que o médico poderia demorar mais de 2 horas.
Dei entrada na urgência da CUF Descobertas e esperei. Só não desesperei porque passado quase três horas a dor desapareceu por completo e encontrei a Ana Rute e a Maria :) A Marta tinha nascido naquela noite.
A médica fez-me entre outras coisas o belo teste dos murrinhos nas costas (acho que se chama Murphy) e eu podia jurar que dum lado tinha sido um murrinho e do outro um knockout... Também fizemos uma eco rápida para espreitar o bebé e a placenta.
Na barriga, tudo estava bem.
Fui fazer análises e xixi para um copinho. O xixi foi muito difícil, segundos antes de ser chamada para a consulta tinha ido à casa de banho, e nas três horas que estive à espera nunca me lembrei de beber nada... Depois do xixi foi a vez das análises. Tentar um braço, tentar outro e a enfermeira loirinha das socas com bonecos Birkenstock acabou por me enfiar a agulha ali mesmo na minha mão esquerda.
Fomos comer qualquer coisa e nao tardou muito para que as dores voltassem. Mais três horas à espera e ainda voltei a ver a Ana Rute.
Novamente na consulta as análises não diziam muito. A urina não tinha nada, a urocultura só ficaria pronta no mínimo em 48h* e o sangue tinha alguns sinais de infecção. Um tipo de glóbulos brancos estava ligeiramente elevado e a Proteína C Reactiva** estava também ligeiramente acima do normal.
Vim para casa com uma declaração de repouso e antibiótico.
*quando finalmente tivemos o resultado era negativo... mais uma incógnita no meu diagnóstico
**é produzida pelo figado quando existe algum tipo de infecção, não dá qualquer tipo de indicação sobre o tipo de infecção que existe, apenas que ela existe. Os seus valores alteram-se rapidamente, quando baixa é um sinal de que a infecção está a baixar também.Estava já cansada das dores e comecei o antibiótico logo. Não conseguia comer grande coisa, acho que não comi mais do que duas ou três bolachas e uma tosta. Quando me deitei já me estava a sentir muito enjoada. O meu corpo ainda aguentou até à segunda dose de antibiótico mas umas horas mais tarde já estava a vomitar o pouco que tinha comido.
Tentei aguentar-me na cama até serem horas do pequeno almoço e nova dose de antibiótico, foi difícil porque não arranjava posição em que não sentisse dores.
Assim que o leite tocou o meu estômago eu soube logo que ia vomitar. Nem sei porque tomei os comprimidos... Vomitei tudinho em menos de 5 minutos.
E depois a dor muito intensa outra vez.
Nova viagem para o CUF Descobertas. Senti-me melhor no carro e achei que seria capaz de ir a pé do parque de estacionamento para o hospital. Bad mistake. Estava com tantas dores que nem sabia se conseguia chegar às urgências.
Felizmente desta vez fui atendida em alguns minutos. Nem me lembro bem o que a médica me fez. Estava literalmente a contorcer-me de dores. Só me lembro de ouvir as palavras internamento. Mas acho que ela ainda me pediu para despir e verificar que estava com o colo fechado.
Uns minutos mais tarde estava numa cama no recobro com enfermeiras e auxiliares a despir-me e a enfiar-me uma agulha no pulso para o catéter. Colocou-me soro e analgésico mas as dores não paravam. A enfermeira acabou por injectar uma agulha cheia de um líquido baço e pouco depois as dores lá começaram a acalmar.
Levaram-me para um quarto. À tarde ia fazer uma ecografia renal.
Umas horas mais tarde comecei a sentir as dores a voltarem. Olhava para os sacos e continuavam a pingar soro e analgésico. E no entanto eu sentia-me com dores outra vez.
Chegou a hora da ecografia. Andei a passear pelo hospital deitada numa cama e quando lá chegamos eu já estava com tantas dores que tiveram que me levar de volta para o quarto.
Tiraram o soro e fiquei com dois sacos de analgésico a pingar mais depressa. Desta vez foi mais rápida a passagem da dor, se bem que primeiro tive que passar pela fase ultra agoniada, lá vou eu vomitar outra vez (só não sei é o quê, já que eu não comia há mais de 24h).
Levaram-me a passear de cama pelo hospital outra vez e descubro na eco que os meus rins estão bons. O direito estava ligeiramente dilatado. Não haviam cálculos nem qualquer outra coisa que justificasse directamente todas aquelas dores.
Comecei a sentir-me bem. Lanchei cheia de vontade e continuei sem dores. Começaram a administrar o antibiótico por via intra-venosa.
É dificil dormir num hospital. Eu estava no piso de obstetrícia e às ocasionais campainhas a tocar juntava-se de vez em quando um bebé a chorar. E até à meia-noite são as auxiliares e as enfermeiras a fazer muito barulho lá fora.
Apesar do barulho sentia-me mais confortável na cama do que nos últimos dias.
Às três da manhã acordei e entrei em pânico. O catéter estava cheio de sangue. Lá vem a enfermeira com sacos novos de soro e analgésico (os últimos que ela tinha colocado acabaram-se em menos de 4 horas). Para me desentupir o catéter teve de utilizar uma seringa cheia de soro.
O stress foi o suficiente para sentir dores novamente.
Às 8h e apesar de ainda ter soro no saco o catéter estava entupido outra vez. E eu a ver aqueles tubinhos cheios do meu sangue.
Já não era possível desentupir. Os coágulos eram muitos e finalmente às 11h da manhã quando me vieram tirar sangue, retiraram o catéter. O meu braço e a minha mão ficaram tão inchados que só voltei a conseguir colocar a minha aliança três dias mais tarde.
Este segundo dia no hospital foi horrível. Eu só me queria ir embora e não podia. Para além de alguma dor no rim as dores nas costas estavam a deixar-me de muito mau humor. Não fazia cocó há quase três dias e já nem conseguia comer de me sentir tão cheia. A médica desse dia decidiu dar-me injecções de anti-inflamatório e eu não tinha argumentos para o recusar. E tinha que ficar mais uma noite no hospital.
Antes de dormir a médica veio ver-me e diz que vai deixar a minha alta pronta para o dia seguinte. Não recebia uma notícia tão boa há imenso tempo.
Acordaram-me às 7 da manhã para me tirar sangue novamente. Numa situação normal eu já fico muito nervosa com a perspectiva de tirar sangue. As minhas veias não se veêm, não se sentem. Nos últimos dois dias já me tinham tirado sangue da mão esquerda, já tinham inserido um catéter no pulso esquerdo que entupiu por completo em menos de 24h, já tinham tirado sangue do braço direito e agora no dia que eu ia finalmente sair dali acordam-me para tirar mais sangue.
Magoaram-me e muito. Apertaram as veias que estavam doridas das picadas anteriores e acabaram a tirar-me sangue do braço esquerdo. Fiquei com uma nódoa negra que ainda agora passado duas semanas ainda não desapareceu.
Quando sairam do quarto desatei a chorar. Senti-me absolutamente violentada***. Queria sair dali o mais depressa possível.
Quando o tiago chegou já eu estava a terminar de tomar banho e a vestir-me. Só faltava aparecer o médico com a minha alta. Felizmente não demorou muito tempo.
Vim para casa com um anti-inflamatório para tomar em SOS. Eu não estava contente, a última coisa que eu queria era tomar anti-inflamatórios na gravidez.
***Durante muito tempo não conseguia falar sobre isto, não conseguia escrever e a última coisa que eu queria eram visitas. Podem até dizer que podia ter recusado, mas quando se está sózinho e fragilizado numa cama de hospital é difícil fazer valer a nossa opinião.Neste momento era pior para o bebé eu continuar com cólicas renais intensas do que tomar o anti-inflamatório. Por isso eu aguentei o máximo possível e quando a dor se tornava intensa eu tomava o anti-inflamatório. É suposto este comprimido ter uma acção de 12 ou mais horas.
Nos primeiros dias a distância entre dores parecia estar a aumentar mas ao terceiro dia eu tive de tomar o anti-inflamatório ainda antes de passarem as 12h.
O tiago já tinha falado com a minha médica e ficamos de passar na urgência de santa maria na terça feira (28 nov). Nesse dia eu acordei determinada a não tomar mais nenhum anti-inflamatório e juntei dois benuron ao antibiótico de manhã.
A ida a santa maria foi um pouco surreal. Era suposto eu passar lá para falar com a minha médica, mas quando dei por isso estava a fazer mais análises e uma nova ecografia renal. Também me fizeram várias vezes o tal teste dos murrinhos, que pela primeira vez não me doeu,e duas ecografias para ver o bebé, a placenta e o líquido amniótico.
A minha médica esteve sempre no bloco de partos e não a cheguei a ver. As médicas das urgências falaram com ela várias vezes via telefone.
Finalmente quando me chamaram foi para dizer que me queriam internar.
Eu ainda estava muito fragilizada da última experiência de internamento, e santa maria não é um hospital particular. Fui muito bem atendida na urgência obstétrica de santa maria, talvez até melhor que na CUF, mas em santa maria há velhotes espalhados em macas e cadeiras de rodas por todos os corredores. A atenção não é a mesma e cheguei a estar lado a lado com uma senhora numa cadeira de rodas cujo catéter apesar de na velocidade máxima de pingo, já não pingava, e no tubinho em vez do líquido transparente estava sangue... e ninguém notava.
Assinei o termo de responsabilidade e vim para casa. Com o tiago estabeleci a condição de que se voltasse a ter dores muito intensas voltavamos logo para o hospital.
Só podia tomar o benuron durante três dias e tinha que tomar uma segunda caixa de antibiótico.
Porque é que eu não fiquei internada em santa maria? Não foi só pelo trauma ou pelas visões de macas e macas de pessoas espalhadas pelos corredores. Enquanto eu estive na CUF as minhas análises continuaram sempre a piorar. Os glóbulos brancos continuaram sempre ligeiramente acima do valor normal, e a Proteína C Reactiva escalou de 100 para 300. Os testes de Murphy também foram sempre positivos, aliás o teste era suficiente para me provocar uma nova cólica renal.
Em santa maria pela primeira vez os testes de murphy (os tais murrinhos nas costas) deram negativo e as análises ao sangue revelaram que a Proteína C Reactiva estava agora num valor mais baixo do que o das primeiras análises que tinha feito. A infecção ainda estava presente mas estava a regredir.
Agora do que eu tinha mais medo era do que iria acontecer quando eu deixasse de tomar o benuron.
O primeiro dia sem benuron foi sexta feira dia 1. Senti-me muito bem neste dia. Só tive dores por volta das 11h e algumas moinhas à tarde junto com uma dor de cabeça fenomenal. Mas quando se tem dores intensas durante tanto tempo uma dor de cabeça por maior que seja é o menor dos nossos problemas.
Durante a noite acordei com muitas dores às 3 da manhã. Respirei fundo e fui repetindo o meu mantra: eu não vou ter mais dores. eu não vou ter mais dores. eu não vou ter mais dores.
Infelizmente o sábado foi passado com dores mais ou menos intensas durante todo o dia. Nem o banho quentinho de imersão conseguiu aliviar, e eu já me estava a ver fazer mais uma viagem para o hospital. Estava cheia de medo de como ia ser aquela noite.
Felizmente a noite foi um pouco melhor que o dia, e o domingo já se passou melhor.
Segunda feira liguei à minha médica que me disse para passar mais uns dias em casa e passar novamente por santa maria.
Terça feira foi o primeiro dia que me senti bem. Agora as dores já apareciam menos intensas e só quando fazia algum esforço.
Vou estar em casa a recuperar até ao natal.
Todos os dias sinto-me melhor, e ainda bem porque a casa está absolutamente caótica ;)
Quero agradecer todos os comentários, todos os sms, todos os que se preocuparam, mas especialmente ao tiago, que foi incansável. Foi o meu rochedo.
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