a indecisão continua... a trabalhar ou em casa?
Daqui: http://www.sindicatodascriancas.com/estudos-mc3.html
É pena que os movimentos feministas ou os movimentos de mulheres dentro dos partidos políticos, por exemplo, que têm como objectivo dignificar e promover o papel e o estatuto da mulher na sociedade, raramente abordem esta questão, como se cuidar dos filhos não fosse uma missão nobre, digna e de encorajar. E se houvesse uma pressão destes movimentos, bem como dos sindicatos e demais organizações, há muito que a situação teria mudado e que as licenças de maternidade não seriam esta miséria. Não. "Ficar em casa" é sinónimo de escravatura.
Mário Cordeiro
Hoje apeteceu-me abordar este assunto que vai gerar (espero!), alguma polémica. Prevejo reacções de negação e de espanto, do estilo: quem diria, afinal, ele é um machista acabado, um chauvinista empedernido, um cavernícola que não percebeu que estamos no século XXI... Mas... não façam juízos de valor sem ler até ao fim... e que fique bem claro: não é tapando o sol com uma peneira que se resolvem os problemas, nem deve haver tabús nem limites às questões trazidas a debate, sobretudo quando são tão importantes e com possíveis efeitos secundários que extravasam, talvez, o que a compreensão primária dos fenómenos permite. Explico-me melhor: estou-me a referir, muito directa e linearmente, ao conflito de interesses que frequentemente existe entre o melhor interesse da criança e o melhor interesse da mulher. E, ainda mais concretamente, ao facto de as Mães irem trabalhar fora de casa nos primeiros anos de vida da criança.
Razões múltiplas
É evidente que há razões de sobra para que as mulheres optem por ter um trabalho fora de casa, e ninguém se atreverá a pô-las em causa ou a culpabilizá-las, como as necessidades económicas, progressão nas carreiras, realização profissional, vontade de se dar com outras pessoas e de partilhar conhecimentos e experiências, de sair para o exterior e diversificar o dia-a-dia, de ser independente em termos monetários. Para além da própria necessidade que a sociedade tem em contar com todos os seus elementos produtivos. Todas estas são boas razões... mas que respondem, essencialmente, ao melhor interesse da mulher. E, quanto à sociedade, porventura o melhor interesse, para esta, como já compreenderam os responsáveis dos países mais avançados do mundo, será investir no longo prazo, isto é, na produção de pessoas equilibradas e resilientes, mais do que a produção imediata de qualquer bem ou serviço.
É evidente que, na sociedade portuguesa, o trabalho da mulher, fora de casa, é ou parece ser um imperativo económico para a maioria das famílias, e se trouxer mais folga económica, com o consequente bem estar dos elementos familiares, a criança será a primeira a beneficiar disso. Mas, indirectamente, no ponto de vista do bebé, esta opção colide com um dos seus melhores interesses: o acompanhamento por aquela que pode, melhor que ninguém, dar-lhe segurança, tranquilidade, estímulo e protecção.
A importância das Mães nos primeiros anos de vida
Cada vez mais se acumulam as provas, irrefutáveis, de que os três primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento da personalidade, do equilíbrio dos afectos, numa palavra, da pessoa. Por outro lado, a estruturação básica, física e biológica, do cérebro faz-se também, em grande parte, nesta idade. E se, como bem relembra Brazelton, as mulheres não se devem sentir culpadas por terem que trabalhar fora de casa e estarem ausentes grande parte do dia, podendo compensar em qualidade, o que falta em quantidade, também não é correcto inverter o bico ao prego e achar que tanto faz. Não tanto faz! O próprio Brazelton afirma que é desejável que as Mães acompanhem mais as crianças nos primeiros anos de vida, e que, se por um lado não se podem nem devem culpabilizar as Mães, também não se pode inverter o discurso e passar uma esponja sobre o assunto, ilibando também os responsáveis políticos, sindicais e sociais.
A presença da Mãe junto da criança, nos primeiros anos de vida, foi durante milhões de anos um factor primordial na sobrevivência e na aquisição de competências. Se o mundo mudou, aparentemente, em termos sociais ? e as mulheres souberam, com a ajuda de muitos homens, dar um pontapé no destino e sair da situação de desvalorização em que se encontravam, também é bom reconhecer que essas mudanças datam, nesta área, de há pouco mais de 50 anos. O que são 50 anos num ser que tem vários milhões de anos em carteira e que, geneticamente, muito pouco evoluiu desde essa altura? E, gostemos ou não, não há dúvida que o melhor interesse da mulher não corresponde, na maioria dos casos, ao melhor interesse da criança.
Acresce que os atendimentos diurnos (amas, creches, infantários) são um local onde os ritmos biológicos de cada criança têm que se moldar à média e aos constrangimentos de organização e operacionalidade. Por outro lado, o risco de infecções respiratórias ou outras é, por exemplo, cerca de dez vezes superior ao das crianças que estão em casa. Sem pôr em causa a dedicação e a competência profissional de dezenas de milhar de educadoras, auxiliares, cozinheiras, directoras e demais, que fazem das creches e infantários o melhor lugar possível, como pediatra não posso deixar de pensar que a estadia de tantas crianças das nove da manhã às sete da tarde num local sem a Mãe, ficando a interacção entre esta e o filho imitada a uma hora antes e duas horas depois, sobrecarregada com rotinas diárias e que consomem tempo e energia, tem efeitos deletérios para os bebés. E para as Mães, também.
O exemplo dos países evoluídos
A Noruega, recentemente visitada pelo nosso Presidente, e que é país considerado mais desenvolvido do mundo, onde a produtividade é maior e os indicadores de bem-estar e de respeito pelos direitos humanos lideram todos os rankings internacionais (OMS, ONU) , é também o país onde as mulheres detêm mais poder ? no Governo, no parlamento, nas empresas, em lugares de chefia e de decisão. Um regime indiscutivelmente paritário. Curiosamente, é também, ainda, o país onde as Mães podem ficar mais tempo com as crianças, em regime pago, e onde as facilidades para os atendimentos são maiores ? pelo que poderíamos dizer que é, igualmente, um país parideiro. O mesmo vai acontecendo nos outros quatro países nórdicos, na Holanda ou na Austrália e em todos os locais onde se pensa a evolução e o aperfeiçoamento das pessoas e das sociedades de uma forma criteriosa, decidida, ousada e dinâmica. A evolução das sociedades, na sua solidez democrática e no respeito pelos direitos de todas as pessoas, é no sentido da equalidade. Mas sempre atendendo aos vários interesses em questão, e tentando colocá-los em conjunção e não em alternativa.
A atitude reaccionária dos partidos políticos e das forças sociais (patronato e sindicatos)
Os partidos políticos portugueses e, designadamente, os sindicatos, os movimentos de mulheres partidários ou da sociedade civil, a Igreja e tantas outras instituições, têm-se comportado, quanto a mim, de uma forma maioritariamente reaccionária, quando se aborda este assunto, ao contrário do que acontece nos países mais evoluídos. Se se analisar objectivamente o que (não) têm feito ou lutado por uma mudança do estado de coisas, dá ideia que a maioria dos movimentos políticos, laborais e seus representantes parecem não ter ainda compreendido que a emancipação e dignificação da mulher, e o processo de equidade (e não de mera igualdade) entre os sexos, se faz de mãos dadas com a promoção das funções da parentalidade, nomeadamente da função maternal. Não entender isto é estar ainda na idade das cavernas em termos de desenvolvimento humano. E é estar a colocar as mulheres numa situação de enorme fragilidade, obrigando-as a optar entre duas situações que deveriam ser pacíficas entre si, deixando, de forma ignóbil, que o ónus da decisão caia sobre elas. É uma forma cobarde, atrasada e historicamente errada de ver a importância das crianças na sociedade e a importância das Mães na educação e no bem estar das crianças.
A responsabilidade de ser Mãe
Só é Mãe quem quer ? pelo menos, na larga maioria dos casos -, e ser Mãe obriga a opções, a escolhas e a decisões. Numa altura em que a fuga às responsabilidades, a todos os níveis, é grande, é bom que as pessoas se lembrem que colocar um fenómeno transcendente, como uma criança, ao nível das compras no supermercado, da revisão do carro ou do lavar a loiça... ou mesmo do emprego, é demasiadamente redutor e conservador.
É certo que a esmagadora maioria das Mães tem que trabalhar para conservar uma qualidade de vida minimamente aceitável. Mas quantas não gastam, com transportes, infantários e outras despesas do dia a dia, quase tanto como o que ganham no emprego? Quantos casais não param um segundo para reflectir sobre a sua vida? Quantos abdicam dos graus de liberdade que, apesar de tudo, têm, para mudar pequenas coisas que se traduzirão por grandes melhorias? Quantos casais optam por frivolidades ou mundanices, em detrimento das relações interpessoais com os filhos? Durante a semana, ao fim de semana, nas férias? Quantos não descarregam em bens materiais exagerados o que omitem em afectos? Ou que investem em laxismo educativo o que deveriam traduzir em regras e em apoio educativo?
Porventura eu ande distraído, mas nunca ouvi convocar uma manifestação de Mães, ou uma greve geral de Mães, para exigir melhores condições para a sua função maternal.
Os deveres do patronato e do Estado
Dar cem contos por mês a todas as Mães, durante um ano, custaria ao Estado português, por ano, cerca de 100 milhões de contos. Muito dinheiro, certamente, mas que benefícios não traria? É uma questão de prioridades, e desafio as leitoras e leitores a verem em que é que se gastam somas desse calibre, bem como o que uma sociedade ganharia em termos de qualidade e equilíbrio dos seus cidadãos. Quando, por exemplo, a Finlândia, no pós-guerra, investiu maciçamente no bem estar das crianças, ou quando a, então, pobre Noruega legislou no sentido de uma promoção do trabalho materno dentro de casa (associado a uma excelente e eficaz política de part-times) não o fizeram apenas pelos lindos olhos das crianças, mas também pelos benefícios sociais a curto, médio e longo prazo que obteriam. Infelizmente, neste cantinho á beira mar plantado, continuamos com políticas de navegação de cabotagem, em que o longo prazo tem um horizonte de quatro anos... et pour cause...
Perdoem-me este desabafo. Não falei aqui no Pai, não senhor. Não porque ele seja menos ou mais do que a Mãe. Não. É apenas diferente. Mas não falei nele porque já me referi largas vezes, como tantas outras pessoas, às obrigações, direitos e deveres dos progenitores masculinos. Mas porque entendo que só seremos homens inteiramente realizados quando existir uma relação de parceria, cumplicidade e equalidade entre homens e mulheres, também me sinto à vontade para criticar a quietude, dormência ou anestesia das mulheres relativamente a este assunto. A Pais&Filhos tem albergado, tantas vezes, queixas e cartas sobre mulheres que foram expoliadas dos seus mais elementares direitos, nas empresas, fábricas e empregos, por terem cometido o crime de tentar responder ao melhor interesse dos seus filhos. Não terá chegado a altura de passar á acção? De reunir Mães e Pais, advogadas e advogados, médicas e médicos, psicólogas e psicólogos, juízas e juízes, educadoras e educadores, quaisquer outros profissionais que sejam leitores, e criar movimentos dinâmicos que devolvam à mulher o seu inigualável estatuto de Mãe, sem se retirar o adquirido e justo estatuto de Mulher, aplanando e bem solucionando o conflito de interesses entre estas duas, bem como entre elas e a Criança?
É pena que os movimentos feministas ou os movimentos de mulheres dentro dos partidos políticos, por exemplo, que têm como objectivo dignificar e promover o papel e o estatuto da mulher na sociedade, raramente abordem esta questão, como se cuidar dos filhos não fosse uma missão nobre, digna e de encorajar. E se houvesse uma pressão destes movimentos, bem como dos sindicatos e demais organizações, há muito que a situação teria mudado e que as licenças de maternidade não seriam esta miséria. Não. "Ficar em casa" é sinónimo de escravatura.
Mário Cordeiro
Hoje apeteceu-me abordar este assunto que vai gerar (espero!), alguma polémica. Prevejo reacções de negação e de espanto, do estilo: quem diria, afinal, ele é um machista acabado, um chauvinista empedernido, um cavernícola que não percebeu que estamos no século XXI... Mas... não façam juízos de valor sem ler até ao fim... e que fique bem claro: não é tapando o sol com uma peneira que se resolvem os problemas, nem deve haver tabús nem limites às questões trazidas a debate, sobretudo quando são tão importantes e com possíveis efeitos secundários que extravasam, talvez, o que a compreensão primária dos fenómenos permite. Explico-me melhor: estou-me a referir, muito directa e linearmente, ao conflito de interesses que frequentemente existe entre o melhor interesse da criança e o melhor interesse da mulher. E, ainda mais concretamente, ao facto de as Mães irem trabalhar fora de casa nos primeiros anos de vida da criança.
Razões múltiplas
É evidente que há razões de sobra para que as mulheres optem por ter um trabalho fora de casa, e ninguém se atreverá a pô-las em causa ou a culpabilizá-las, como as necessidades económicas, progressão nas carreiras, realização profissional, vontade de se dar com outras pessoas e de partilhar conhecimentos e experiências, de sair para o exterior e diversificar o dia-a-dia, de ser independente em termos monetários. Para além da própria necessidade que a sociedade tem em contar com todos os seus elementos produtivos. Todas estas são boas razões... mas que respondem, essencialmente, ao melhor interesse da mulher. E, quanto à sociedade, porventura o melhor interesse, para esta, como já compreenderam os responsáveis dos países mais avançados do mundo, será investir no longo prazo, isto é, na produção de pessoas equilibradas e resilientes, mais do que a produção imediata de qualquer bem ou serviço.
É evidente que, na sociedade portuguesa, o trabalho da mulher, fora de casa, é ou parece ser um imperativo económico para a maioria das famílias, e se trouxer mais folga económica, com o consequente bem estar dos elementos familiares, a criança será a primeira a beneficiar disso. Mas, indirectamente, no ponto de vista do bebé, esta opção colide com um dos seus melhores interesses: o acompanhamento por aquela que pode, melhor que ninguém, dar-lhe segurança, tranquilidade, estímulo e protecção.
A importância das Mães nos primeiros anos de vida
Cada vez mais se acumulam as provas, irrefutáveis, de que os três primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento da personalidade, do equilíbrio dos afectos, numa palavra, da pessoa. Por outro lado, a estruturação básica, física e biológica, do cérebro faz-se também, em grande parte, nesta idade. E se, como bem relembra Brazelton, as mulheres não se devem sentir culpadas por terem que trabalhar fora de casa e estarem ausentes grande parte do dia, podendo compensar em qualidade, o que falta em quantidade, também não é correcto inverter o bico ao prego e achar que tanto faz. Não tanto faz! O próprio Brazelton afirma que é desejável que as Mães acompanhem mais as crianças nos primeiros anos de vida, e que, se por um lado não se podem nem devem culpabilizar as Mães, também não se pode inverter o discurso e passar uma esponja sobre o assunto, ilibando também os responsáveis políticos, sindicais e sociais.
A presença da Mãe junto da criança, nos primeiros anos de vida, foi durante milhões de anos um factor primordial na sobrevivência e na aquisição de competências. Se o mundo mudou, aparentemente, em termos sociais ? e as mulheres souberam, com a ajuda de muitos homens, dar um pontapé no destino e sair da situação de desvalorização em que se encontravam, também é bom reconhecer que essas mudanças datam, nesta área, de há pouco mais de 50 anos. O que são 50 anos num ser que tem vários milhões de anos em carteira e que, geneticamente, muito pouco evoluiu desde essa altura? E, gostemos ou não, não há dúvida que o melhor interesse da mulher não corresponde, na maioria dos casos, ao melhor interesse da criança.
Acresce que os atendimentos diurnos (amas, creches, infantários) são um local onde os ritmos biológicos de cada criança têm que se moldar à média e aos constrangimentos de organização e operacionalidade. Por outro lado, o risco de infecções respiratórias ou outras é, por exemplo, cerca de dez vezes superior ao das crianças que estão em casa. Sem pôr em causa a dedicação e a competência profissional de dezenas de milhar de educadoras, auxiliares, cozinheiras, directoras e demais, que fazem das creches e infantários o melhor lugar possível, como pediatra não posso deixar de pensar que a estadia de tantas crianças das nove da manhã às sete da tarde num local sem a Mãe, ficando a interacção entre esta e o filho imitada a uma hora antes e duas horas depois, sobrecarregada com rotinas diárias e que consomem tempo e energia, tem efeitos deletérios para os bebés. E para as Mães, também.
O exemplo dos países evoluídos
A Noruega, recentemente visitada pelo nosso Presidente, e que é país considerado mais desenvolvido do mundo, onde a produtividade é maior e os indicadores de bem-estar e de respeito pelos direitos humanos lideram todos os rankings internacionais (OMS, ONU) , é também o país onde as mulheres detêm mais poder ? no Governo, no parlamento, nas empresas, em lugares de chefia e de decisão. Um regime indiscutivelmente paritário. Curiosamente, é também, ainda, o país onde as Mães podem ficar mais tempo com as crianças, em regime pago, e onde as facilidades para os atendimentos são maiores ? pelo que poderíamos dizer que é, igualmente, um país parideiro. O mesmo vai acontecendo nos outros quatro países nórdicos, na Holanda ou na Austrália e em todos os locais onde se pensa a evolução e o aperfeiçoamento das pessoas e das sociedades de uma forma criteriosa, decidida, ousada e dinâmica. A evolução das sociedades, na sua solidez democrática e no respeito pelos direitos de todas as pessoas, é no sentido da equalidade. Mas sempre atendendo aos vários interesses em questão, e tentando colocá-los em conjunção e não em alternativa.
A atitude reaccionária dos partidos políticos e das forças sociais (patronato e sindicatos)
Os partidos políticos portugueses e, designadamente, os sindicatos, os movimentos de mulheres partidários ou da sociedade civil, a Igreja e tantas outras instituições, têm-se comportado, quanto a mim, de uma forma maioritariamente reaccionária, quando se aborda este assunto, ao contrário do que acontece nos países mais evoluídos. Se se analisar objectivamente o que (não) têm feito ou lutado por uma mudança do estado de coisas, dá ideia que a maioria dos movimentos políticos, laborais e seus representantes parecem não ter ainda compreendido que a emancipação e dignificação da mulher, e o processo de equidade (e não de mera igualdade) entre os sexos, se faz de mãos dadas com a promoção das funções da parentalidade, nomeadamente da função maternal. Não entender isto é estar ainda na idade das cavernas em termos de desenvolvimento humano. E é estar a colocar as mulheres numa situação de enorme fragilidade, obrigando-as a optar entre duas situações que deveriam ser pacíficas entre si, deixando, de forma ignóbil, que o ónus da decisão caia sobre elas. É uma forma cobarde, atrasada e historicamente errada de ver a importância das crianças na sociedade e a importância das Mães na educação e no bem estar das crianças.
A responsabilidade de ser Mãe
Só é Mãe quem quer ? pelo menos, na larga maioria dos casos -, e ser Mãe obriga a opções, a escolhas e a decisões. Numa altura em que a fuga às responsabilidades, a todos os níveis, é grande, é bom que as pessoas se lembrem que colocar um fenómeno transcendente, como uma criança, ao nível das compras no supermercado, da revisão do carro ou do lavar a loiça... ou mesmo do emprego, é demasiadamente redutor e conservador.
É certo que a esmagadora maioria das Mães tem que trabalhar para conservar uma qualidade de vida minimamente aceitável. Mas quantas não gastam, com transportes, infantários e outras despesas do dia a dia, quase tanto como o que ganham no emprego? Quantos casais não param um segundo para reflectir sobre a sua vida? Quantos abdicam dos graus de liberdade que, apesar de tudo, têm, para mudar pequenas coisas que se traduzirão por grandes melhorias? Quantos casais optam por frivolidades ou mundanices, em detrimento das relações interpessoais com os filhos? Durante a semana, ao fim de semana, nas férias? Quantos não descarregam em bens materiais exagerados o que omitem em afectos? Ou que investem em laxismo educativo o que deveriam traduzir em regras e em apoio educativo?
Porventura eu ande distraído, mas nunca ouvi convocar uma manifestação de Mães, ou uma greve geral de Mães, para exigir melhores condições para a sua função maternal.
Os deveres do patronato e do Estado
Dar cem contos por mês a todas as Mães, durante um ano, custaria ao Estado português, por ano, cerca de 100 milhões de contos. Muito dinheiro, certamente, mas que benefícios não traria? É uma questão de prioridades, e desafio as leitoras e leitores a verem em que é que se gastam somas desse calibre, bem como o que uma sociedade ganharia em termos de qualidade e equilíbrio dos seus cidadãos. Quando, por exemplo, a Finlândia, no pós-guerra, investiu maciçamente no bem estar das crianças, ou quando a, então, pobre Noruega legislou no sentido de uma promoção do trabalho materno dentro de casa (associado a uma excelente e eficaz política de part-times) não o fizeram apenas pelos lindos olhos das crianças, mas também pelos benefícios sociais a curto, médio e longo prazo que obteriam. Infelizmente, neste cantinho á beira mar plantado, continuamos com políticas de navegação de cabotagem, em que o longo prazo tem um horizonte de quatro anos... et pour cause...
Perdoem-me este desabafo. Não falei aqui no Pai, não senhor. Não porque ele seja menos ou mais do que a Mãe. Não. É apenas diferente. Mas não falei nele porque já me referi largas vezes, como tantas outras pessoas, às obrigações, direitos e deveres dos progenitores masculinos. Mas porque entendo que só seremos homens inteiramente realizados quando existir uma relação de parceria, cumplicidade e equalidade entre homens e mulheres, também me sinto à vontade para criticar a quietude, dormência ou anestesia das mulheres relativamente a este assunto. A Pais&Filhos tem albergado, tantas vezes, queixas e cartas sobre mulheres que foram expoliadas dos seus mais elementares direitos, nas empresas, fábricas e empregos, por terem cometido o crime de tentar responder ao melhor interesse dos seus filhos. Não terá chegado a altura de passar á acção? De reunir Mães e Pais, advogadas e advogados, médicas e médicos, psicólogas e psicólogos, juízas e juízes, educadoras e educadores, quaisquer outros profissionais que sejam leitores, e criar movimentos dinâmicos que devolvam à mulher o seu inigualável estatuto de Mãe, sem se retirar o adquirido e justo estatuto de Mulher, aplanando e bem solucionando o conflito de interesses entre estas duas, bem como entre elas e a Criança?
Etiquetas: dona de casa, gravidez
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